quarta-feira, dezembro 13, 2006

Criatura e Criadora

- Sob o ponto de vista da criadora:

Desde a minha última decepção amorosa - a segunda consecutiva - deduzi que era incapaz de amar novamente. Pessoas interessantes, no início, tornaram-se completamente dispensáveis após um erro de português, uma noite de embriaguez ou atos falhos repudiantes, como monossílabas repetitivas e citações de um passado recente.

Decidi ser a autora. Deixei de ser personagem.

Ser autora é mais legal. Pode-se manipular as personagens ao seu bel prazer, contornar a história para um drama ou uma comédia, adiantar o final, transformar tudo em felicidade no desfecho...

No entanto, não me avisaram que a personagem poderia crescer ao ponto de dominar a história e fazer do autor, um mero coadjuvante. Isso aconteceu comigo, com aquela que jamais acreditaria no amor. Com quem achava que amor AMOR só acontecia de mãe para filho e, ainda assim, nem sempre.

Minha personagem preferida se apaixonou. Tão rápida e ridiculamente que me fez ter vergonha de tê-la criado. Entrou em desespero a coitada! e por não ser pessoa, de carne e osso, agora dorme repetindo a seguinte frase:
"Como eu queria ser alguém, como eu queria ser alguém..."

Seu amor sabe de tudo, ela lhe foi sincera desde o começo:
"E por que não ser? Torne-se alguém. Quem sabe eu também seja um personagem? Um sonho num sonho?"

Ele não se interessaria por ela, se ela não fosse extremamente linda, bem-humorada (ao menos, quando estava com ele, afinal, sua natureza era triste), falante, passional e sincera. Gosta de sentir a música que ouve. E foi assim que ele a conquistou: fazendo-a sentir as músicas que lhe presenteava.

"Tudo o que eu quero é um sorriso ou dois" - e ela se imaginava sentada em um piano de cauda, usando um vestido azul justo, de paetês, cantando para o pianista, que era ele.
"Ninguém sabe o quão profundo o meu amor por você pode chegar"

Com sua fisionomia séria e serena, contava-lhe piadas bobinhas e conseguia fazê-la rir com facilidade:
"Se você é ninguém, então você sabe."

E ela sofrendo por dentro, por não poder ser alguém para passear com ele de mãos dadas pelas ruas escuras e molhadas da cidade, pela madrugada, chorava.

06.06.05

4 comentários:

Alexandre disse...

belle é uma romântica.. :)

Anônimo disse...

Eu curti isso...

Já decidi, vou ser autor tb!!

hehehehe

Awmergin disse...

Minha caríssima Belle,
Entendo-te perfeitamente quando dizes que te decepcionaste com um "alguém" (ou com dois)...
Desde há um ano e meio, encontro-me só, como uma falcão que voa pelos ares. Contudo, não me lamento por isso. Felizes daqueles que sabem gozar de sua própria solidão, pois estes são os fortes e os que sabem conviver com seus próprios sonhos e pensamentos profundos!
Tens a minha estima, só por este singelo fato: o de teres resolvido ser "personagem". Deixe que eu te diga algo... CERTOS PERSONAGENS, SÃO MAIS REAIS QUE SEUS AUTORES.
Awmergin é mais real que Marcelo, pois Marcelo foi um nome que não escolhi para mim, é apenas um nome outorgado á minha pessoa ao acaso. Awmergin foi aquele nome que encontrei nos recitos profundos de minha mente.
A liberdade de criação do escritor, em sua solidão, é seu bálsamo e sua glória. Cultiva-te, purifica-te em tua própria imaginação.
Virei aqui mais vezes, cara Belle.
Parabéns por sua iniciativa!
Evohé!
Awmergin, o Bardo

Anônimo disse...

Poxa, você tem um nome lindo ^^
E escreve mto bem. Adorei!

:*